quinta-feira, abril 22, 2010

Não esquecer 23 de Abril de 1971


Ataque Pirata ao navio "Angoche"
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Quem foram/são os criminosos???
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-Alguns ainda estão no meio de nós!!!
-Outros terão sido governantes???
-Quantos estarão a receber chorudas pensões???
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Uma versão:
ÓSCAR CARDOSO- CRIADOR DOS FLECHAS.....

"Ingressei em miúdo na Mocidade Portuguesa, quando tive de ingressar.
Fi-lo, curiosamente, quando estudava no Colégio Moderno, do Dr. João Soares.
Mais tarde entrei para a Legião Portuguesa e frequentei o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.
Interrompi o curso para fazer o serviço militar na Índia.
Depois fui para a Guarda Nacional Republicana até que, em 1965, entrei para a PIDE. Na estrutura da PIDE, Barbieri Cardoso era inspector superior.
Mas depois apareceu São José Lopes, um homem com grande influência em Angola, e era necessário dar-lhe outra situação para compensar o bom serviço que tinha feito. Então, nomearam-no inspector superior do Ultramar.
Entretanto, havia na PIDE um indivíduo muito mais antigo do que o Dr. São José Lopes, o inspector Coelho Dias, que era subdirector, e que também queria ser inspector superior.
Criaram-se assim os lugares de subdirector-geral para Barbieri Cardoso, de inspector superior do Ultramar para São José Lopes e de inspector superior do Continente para Coelho Dias. Havia uma divisão de tarefas entre os três.
A PIDE tinha muito boas relações com todas as polícias e serviços secretos do seu género na Europa e no mundo.
É conhecida a ligação de Barbieri Cardoso aos serviços secretos franceses, dirigidos pelo conde Alexandre de Marenches.
Mas dávamo-nos bem com todas as polícias congéneres e também com os americanos da Central Intelligence Agency (CIA).
Operávamos muito em África, através de informadores, sobretudo nos países vizinhos de Angola, Moçambique e Guiné. Por exemplo, havia informadores na Tanzânia em ligação a Oscar Kambona, o chefe da oposição a Julius Nyerere. Mas o controlo era feito através de Lisboa, pela secção central na António Maria Cardoso, chefiada por Álvaro Pereira de Carvalho.
Tínhamos de facto bons informadores em África, onde os nossos serviços faziam um trabalho sobretudo de intelligence, em colaboração estreita com os militares.
Foi precisamente através da nossa rede na Tanzânia que soubemos o que se tinha passado com o navio Angoche.
O navio Angoche levava material para a nossa Força Aérea, material sofisticado, essencialmente material explosivo, bombas para os aviões, etc., e creio que ia para Porto Amélia.
Soubemos que o Angoche foi abordado em 23 de Abril de 1971 por um submarino da União Soviética e que os seus tripulantes foram levados para a Tanzânia, para a base central da Frelimo, Nachingwea.
Foi uma operação executada por soviéticos, o que nos foi possível confirmar pelas análises que fizemos dos vestígios encontrados no barco.
A primeira pessoa que fez a investigação a bordo do Angoche foi o inspector Casimiro Monteiro. Verificou que as armas não estavam lá.
A tripulação foi levada para Nachingwea e depois, penso eu, terá sido aniquilada. Penso que iam no Angoche à volta de vinte e três pessoas.
Mais de metade eram africanos, de Moçambique, e os outros europeus.
O navio não era de passageiros mas levava um passageiro a bordo, a quem se deu uma boleia, o que era estranho.
Houve uma outra coisa curiosa: a mudança, à última hora, do radiotelegrafista. O radiotelegrafista que era para ir resolveu não ir.
Pode ter sido uma mera coincidência, mas é curioso que assim tenha sido.
Na nossa opinião, tratou-se de uma operação soviética, feita em colaboração com o Partido Comunista Português.
Fala-se que houve oficiais da Marinha, hoje oficiais generais, que estariam envolvidos nisso.
Houve também o estranho caso de uma rapariga que foi "suicidada" na cidade da Beira e que estava ligada aos meios esquerdistas da Marinha portuguesa.
Esta versão dos factos constou dos nossos relatórios na altura.
Tínhamos um relatório secreto sobre o Angoche que desapareceu da sede da DGS, na Rua António Maria Cardoso, depois do 25 de Abril.
Foi um dos processos que desapareceram. O caso estava a ser investigado....
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Bruno Oliveira Santos, Histórias secretas da PIDE/DGS (p. 401-402)
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NOTA:A última notícia relacionada com o navio "Angoche" tive-a de Fernando Taborda, o último administrador português de Quionga:
"Saiba o povo português que, em Março de 1974, foi descoberta, na foz do Rovuma, uma baleeira do navio "Angoche", com insígnias começadas por NA confirmada pelo cabo de mar de Palma e que, sobre ela, nunca me foi dada resposta à circular que mandei para a Capitania de Porto Amélia.
"In Quionga, meu amor
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UMA ACHEGA:NAVIO “ANGOCHE
No dia 23 de Abril de 1971 - faz hoje 35 anos - o navio "Angoche" foi assaltado em alto mar, na costa de Moçambique, quando ia em viagem para o Norte.
Os 22 tripulantes foram levados para a Tanzânia e assassinados em Nachingwea, uma base da Frelimo.
Supõe-se que o assalto tenha sido feito por meios navais soviéticos, talvêz um submarino e foram encontradas manchas de sangue no navio, o que prova que foi usada violência contra os tripulantes.
O jornal "Notícias" de Lourenço Marques foi impedido pela Comissão de Censura de divulgar qualquer informação, o mesmo acontecendo com os jornais de Lisboa.
O jornal "Star" de Joanesburgo, que era vendido na esquina do "Continental", em Lourenço Marques, começou a referir-se ao assunto a partir da última semana desse mês de Abril de 1971. As informações eram poucas e as suposições eram muitas.
"Diz-se", "fala-se", "supõe-se"...
O mesmo acontecia com a Rádio Brazaville e a Rádio RSA de Joanesburgo, que transmitiam em português. Ou com as emissões em inglês da BBC e da Voz da América. Todas escutadas por mim em Onda Curta.
Nunca ouvi a Rádio Moscovo e a "Voz da Frelimo" (através da Rádio Tanzânia) referirem-se ao assunto em Abril/Maio de 1971, apesar de eu as escutar todos os dias para o efeito.Ainda hoje permanece o mistério sobre o que teria contecido aos tripulantes e a um provável passageiro, que viajavam a bordo do navio "Angoche".
Só 3 dias depois, a 26 de Abril de 1971, o navio foi abordado pelas autoridades coloniais portuguesas, pelo que houve quem se interrogasse em Moçambique se não teria sido tempo demais para dar pela falta de um navio daquele tamanho e com uma carga daquela natureza.
Usou-se o clásico raciocínio do "Motivo, Meios e Oportunidade" para tentar peceber o que se tinha passado:
- Motivo e Oportunidade: a Frelimo e a União Soviética, porque o "Angoche" transportava material de guerra;
- Meios: apenas a União Soviética, porque a Frelimo não tinha meios navais para um assalto em alto-mar.
Por motivos óbvios estratégicos e porque um acto de pirataria contra um navio mercante civil não honra particularmente quem o pratica, a URSS nunca falou no assunto.
Quatro anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril em Lisboa, desapareceu o relatório secreto sobre o assunto.
Assim se passaram 35 anos sem que a opinião pública tivesse tido o direito de saber o que se passou.
Haverá pessoas daquele tempo que sabem o que aconteceu ou que tiveram acesso ao relatório.
É tempo de quebrarem o silêncio!
(SW)

1 comentário:

Camilo disse...

PORTUGUESES!!!
ABRAM OS OLHOS!!!