quinta-feira, junho 08, 2006

TRIO OURO NEGRO / DUO OURO NEGRO




Com a morte de Raul Indipwo, uma série de idiotas incultos e mal- informados, teceu os maiores disparates sobre o que desconhecem por completo.
Quando, por volta de 1959, Raul Indipwo e Milo MacMahon formam o OURO NEGRO, foi juntamente com um terceiro elemento (do qual, neste momento, não recordo o nome).

Quando vieram a Portugal, em 1959, pela mão do empresário Ribeiro Braga, gravaram três discos.


Foram acompanhados pela Orquestra de Joaquim Costa Gomes.
Esses discos foram gravados sob licença de The Columbia Graphophone Company,Ltd. (Hayes-Middlesex-England).
Nas capas dos três discos, impressos em quadricromia, podem ver-se, os TRÊS elementos do OURO NEGRO.

Na contra-capa de um pode ler-se:
"Poucos conjuntos artísticos terão firmado tão rapidamente os seus créditos como o Trio Ouro Negro.
Em menos de um ano, três rapazes vindos de Angola passaram do mais completo anonimato à posição de verdadeiras vedetas do music-hall português... etc.... "
Portanto, à boa maneira da mentalidade portuguesa, houve um branqueamento sobre o extinto TRIO OURO NEGRO para a passagem a DUO OURO NEGRO.
A verdade é que no seu início eram TRÊS os elementos.
Mas... vejamos (mais de perto) como nasce o sucesso deste agrupamento musical.
Salvo uma ou duas canções da autoria dos TRÊS elementos, a maior parte do arranque do TRIO OURO NEGRO foi com canções do folclore angolano, quase todas com arranjos do... OURO NEGRO.
Porém, os seus verdadeiros autores, estavam nos kimbos, nas sanzalas, interpretando-as nos batuques das noites Angolanas ou nas festas pessoais.
"Muxima", "Mana Fatita", "Kuricotela", "Tala on N´bundo", "Kangrima", "Maria Kandimba", "Hendáuá Xala", "N´birin N´birin" "N´zambi", "Palamié", et. etc. etc. FORAM ROUBADAS AOS SEUS AUTORES.
Perguntem em Luanda, a algum dos elementos do "N´GOLA RITMOS", "OS KIEZOS"...
Falem com o Elias Diá Kimwezo!!!
Em 1959, 60, 61 e por aí fora, às autoridades pouco ou nada importava este assunto.
Os rapazes cantavam e tocavam bem. E até faziam uma excelente propaganda a Angola, ajudando o governo de Lisboa, numa altura um pouco turbulenta.
Além do mais, os verdadeiros autores das canções estavam muito longe... não tinham dinheiro para fazer o que quer que fosse. Já bastavam as chatices do dia-a-dia para arranjarem dinheiro para comer, quanto mais falar em direitos de autorais que desconheciam!...
Em 1965, a revista (semanal) angolana NOTÍCIA, da qual fiz parte até à sua selvática extinção (1975), publicou uma grande reportagem onde denunciou este roubo musical, intitulado:
"É PRECISO TER LATA". Nesta altura já o trio estava reduzido a DUO OURO NEGRO.
Do terceiro elemento, consta que teria ficado durante uma digressão, pela Holanda.
Não posso precisar...
Palavra d´honra que me surpreendeu ter lido no "24 Horas", que "o regime se serviu de Eusébio, de Amália e do Duo Ouro Negro", esquecendo e marginalizando o Raul Indipwo.
Esta mentira é vil. É baixa de mais para ser verdadeira!!!
Do Eusébio, serviu-se o Benfica.
Da Amália, serviu-se o mundo inteiro.
O OURO NEGRO serviu o regime porque quis. Separou-se das raízes. Distanciou-se do povo angolano, embora andasse pelo mundo a cartar a suas canções.
Se não quisessem servir o regime, tinham pedido asilo político em qualquer das cidades por onde actuaram e ganharam rios de dinheiro a interpretar canções angolanas.
Além do mais, Raul Indipwo fez uma "colagem" ao MPLA e a José Eduardo dos Santos.
A UNITA e o Dr. Jonas Savimbi eram a guerra. O Mau. O Diabo.
O Governo de Angola e o seu presidente vitalício é que tinham razões -carradas de razões- para lhe dar todo o apoio, quer moral; quer financeiro.
Todavia, quero aqui deixar esclarecido que não me importo que andem ignorantes, analfabetos e doidos a escrever nos jornais portugueses.
Antes pelo contrário!...
Prefiro que escrevam nos jornais do que andem a escrever nas paredes dos edifícios.
Aos jornais, sempre posso limpar o cu.
Às paredes ...é mais difícil!!!

5 comentários:

Anónimo disse...

Camilo, só tens as capas ou também tens os discos? São uma relíquia que deves preservar. Quanto ao assunto, não sei se lembras de quando o Dionísio Rocha e os Negoleiros do Ritmo vieram apresentar a sua música em Portugal alguém disse que essa não era a verdadeira música angolana e ninguém mais lhes ligou. Um abraço para ti do Pereira

Anónimo disse...

Devo referir que aquilo que escreveu não está totalmente correcto. Antes de gravarem como Trio, o Duo já tinha gravado 3 Ep's. Dois com o Sivuca e seu conjunto (onde gravaram o Muxima, Kurikutela, Maria Candimba...) e outro com a orquestra de Joaquim Luís Gomes de onde se pode ouvir a belíssima música Serenata a Luanda.
Como Trio o Ouro Negro Gravou 5 Ep's ao todo.
É verdade que muitos dos temas foram compostos por músicos como Vieira Dias, Eleutério Sanches, mas não lhes tirarei jamais o mérito de terem cativado como ninguém o público mundial. Não me esqueço ainda que essas músicas já eram populares antes de alguns músicos as recomporem, com novos arranjos.
E tal como foi proferido aquando da morte do Raúl, quer queiram quer não, representaram de forma inequívoca e espalharam o nome Angola por todo o Mundo. Talvez a questão da mestiçagem esteja em parte na origem da aceitação deste grupo em Portugal, ao contrário de músicos como Belita Palma, Lourdes Van-Dunem, ou dos Ngola Ritmos... Mas isso é outro assunto.

Os meus cumprimentos,

Camilo disse...

Caro "Ó"... Lamento que não saiba o que está a escrever.
É mentira que tenham gravado como duo, antes de serem TRIO.
Os primeiros discos foram gravados como TRIO.
Depois é que ficaram reduzidos a DUO.
Mostre-me onde estão os registos. Têm que existir!!!
Quanto ao Euleutério Sanches, conheci-o. Tal como ao irmão Carlos Sanches. Porém, estes não criaram nada. Apenas cantavam o que já existia. Tal como o Ouro Negro...
Hoje seria impossível utilizarem as canções que foram USURPADAS (é o termo).
Hoje há os Direitos de Autor.
Há mais informação. Mais crítica. Naquele tempo não havia nada.
É certo que o OURO NEGRO foi popular. O governo de Salazar e Caetano não puseram (nunca punham)entraves ao sucesso e até ajudou.
Por falar nisso... É lamentável que o senhor Raul Indipwo, ultimamente, se tenha "colado" ao MPLA... mas eu conheço as razões...
Informe-se melhor, amigo "Ó"... eu não escrevo de "ouvido"... escrevo com conhecimento(s) de causa.
Os Kiezos, foram os únicos que tiveram um disco proibido pela PIDE. Eu tenho-o...
A mim, a memória não me atraiçoa.
E o "arbusto" não permite que eu deixe de ver a... FLORESTA!!!
De qualquer maneira, escreva sempre. É da discussão que nasce a luz... (dizem os inventores das lanternas).

Anónimo disse...

Tenho pena que não tenha os 3 Ep's do Duo Ouro Negro gravados em 1960, e que lhe fornecem essa resposta, e nem preciso de ir mais longe.. Se for à contra capa do disco que colocou na 1ª foto, encontra lá a resposta.
Os registos existem, e tenho-os aqui em casa. Quando o Gin gravou com o Ouro Negro, lançaram 5 Ep's. Mais 1 de folclore e outro já com músicas tipicamente cançonetista (o último enquanto trio).
Não falo de ouvido, baseio-me em factos.
Admiro o Ouro Negro, como muito admiro o Liceu Vieira Dias, e sobretudo o Elias Dia Kimuezo. A célebre Serenata a Luanda é da autoria do Eleutério Sanches, e para mim é muito mais hino do que a música do Dionísio Rocha "A Minha Cidade".
Os kiezos tiveram censura sim, quando começaram a cantar o Milhorró do Abel Murrimba, mesmo tentando despistar a PIDE. Mas também não me posso esquecer que quando o Duo foi a Vilar de Mouros termináram também as boas relações com o Estado Novo.

Muitos cumprimentos,

glb disse...

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