sábado, dezembro 25, 2010

O BANDO DE ARGEL

Em passeio pela blogosfera, dei de caras com o blogue de Patrícia McGowan Pinheiro, que também assina Patrícia Lança.
Filha de pai português e mãe de origem irlandesa, estreia-se na blogosfera aos 82 anos. Dissidente do Partido Comunista Britânico, viveu de 1962 a 1966 na Argélia, onde foi redactora do "Révolution Africaine".
Foi por lá que conheceu o bando de Argel.
Ficou a saber a vidinha custosa e as boas acções de Manuel Alegre, Piteira Santos e Tito de Morais, entre outros figurões de estalo.
O assunto inspirou-lhe um livro, justamente intitulado «O Bando de Argel», que a autora reeditou em 1998 pela Contra-Regra, sob o título de «Misérias do Exílio - Os últimos meses de Humberto Delgado». (Foi uma das obras que consultei para um volume publicado há alguns anos sobre a PIDE/DGS.)
Em 260 páginas, a autora demonstra-com cópia de pormenores e apêndice documentais que o general foi despachado pelos interesses coligados do Partido Comunista e do bando de Argel.
Oito citações: "A Frente Patriótica de Libertação Nacional foi o título pomposo de um pequeno grupo de pessoas cujo fim era o aproveitamento de acções e sacrifícios feitos por outros." (pág. 27 "Assim, a direcção da FPLN passou a ter uma valiosa arma contra a dissidência.
Foram ao ponto de exigir que, à chegada, os portugueses lhes entregassem os passaportes". (pág. 46) "Contudo, o problema do general [Humberto Delgado] subsistia.
Tornara-se definitivamente anti-comunista.
Seria ainda mais perigoso para o partido fora da Argélia - em contacto com os núcleos de exilados em várias capitais.
E terrivelmente mais perigoso se, porventura, entrasse clandestinamente em Portugal.
Era uma testemunha viva da incompetência e corrupção moral de certos prestigiados «anti-fascistas».
Preso em Portugal ou livre na clandestinidade constituiria uma ameaça terrível para os projectos do Partido Comunista". (pág. 82)
"Na rádio Voz da Liberdade, o major Ervedosa e Manuel Alegre insultavam Delgado." (pág. 89)
"Durante esses dois meses de angústia [desaparecimento de Delgado], foram os dirigentes da Frente Patriótica - Fernando Piteira Santos, Manuel Tito de Morais, Pedro Ramos de Almeida e Manuel Alegre - que envidaram todos os esforços para bloquear a realização de um inquérito e, caso o general estivesse preso ou com vida, quaisquer tentativas para o salvar".
pags 89-9
"Quando eu e os meus amigos soubemos, no dia seguinte, que os dirigentes da Frente Patriótica tentaram apoderar-se do arquivo do general, a conclusão foi unânime: só teriam essa desfaçatez se tivessem a certeza absoluta que Delgado já não voltaria mais". (pág.
"Só depois da descoberta dos cadáveres, anunciada no dia 27 de Abril, é que a Frente Patriótica abandonou a tese de uma «operação publicitária» por parte do general; só então, quando o mundo inteiro já sabia da morte do general, é que eles começaram a emitir protestos e apelos (...)" pag.(91) "(...) a sua actividade [de Humberto Delgado] é prejudicial à unidade anti-fascista e a sua pessoa não interessa ao futuro democrático do país." (p. 226, excerto de um comunicado da FPLN, de 23 de Março de 1965)
Mas não é por nada disto que o blogue de Patrícia tem dado brado.
Há muito que a «intelligentzia» arquivou o caso Delgado: foi assassinado pela PIDE. Ponto final. Ninguém curou de investigar se Casimiro Monteiro era um agente duplo, o modo como Pereira de Carvalho organizou a operação, etc.
Um longo etc. Nada disto importa, tanto que se corre o risco de descobrir alguma verdade "inconveniente".
B.O.S.

6 comentários:

A. João Soares disse...

É bom que se difundam informações sobre os «heróis» de Argel neste momento em que um dos nomes citados no post pretende vir a ser PR, isto é, Comandante Supremo das Forças Armadas. Seria bom que alguém lhe perguntasse como, se for eleito, pretende organizar a tradicional cerimónia militar do 10 de Junho. Faz-se representar pelo ministro da Defesa?
Durante os 13 anos de guerra, muitos famílias escusavam de ficar enlutadas se não houvesse a acção «heróica» de tais lutadores de microfone.

Abraço
João
Do Miradouro

Anónimo disse...

O boato que corria naquele tempo, é que Delgado foi entregue de bandeja pelos pcpês.

Anónimo disse...

João Soares tem toda a razão no que afirma.Deveria ser controlada por órgãos próprios do sistema democrático o acesso de cidadãos como este (Manuel Alegre) à candidatura a qualquer cargo político do Estado e nomeadamente ligado às Forças Armadas.
Mas mais espantoso é o facto de um ex-PR (Jorge Sampaio) venha agora dar apoio público e expresso a este candidato. É que ele esteve presente no 10 de Junho de 2000, em que foi descerrada a galeria dos nomes dos combatentes da Guerra do Ultramar que lá morreram pela Pátria e lhes prestou homenagem e às suas famílias, em discuso proferido na altura. A falta de coerência nestes senhores nota-se mais. Como diz o meu amigo poeta J. Caniné sobre os militares estarem de cócoras perante os políticos, "nos generais nota-se mais".
Manuel Bernardo

Camilo disse...

Manuel Bernardo,
tem toda a razão.
Quanto a Jorge Sampaio, estou à espera que Artur Agostinho (recentemente condecorado), diga qualquer coisa sobre ele.
Estive no lançamento do livro: "Em Nome da Pátria".

camilo

Ursus pardus disse...

Enquanto uns ficaram e outros foram presos , este Sr foi posto em Portugal civilmente trajando dizendo-se que sofria de gota .
Espero que todos aqueles que deram o seu melhor tenham uma palavra a dizer
Em nome da patria bom livro !Que sirva de lição a muita gente!

Silvino Potencio disse...

De: Silvino Potêncio

Durante os ultimos quase 37 anos, nós temos navegado a nossa Nau Catrineta pessoalmente e quase sempre longe dos amigos, dos parentes, das oportunidades de perseguir uma vida melhor e isso o devemos aos heróis da "garraiada"... uma autêntica largada de toiros na Praça do Terreiro do Passo - com dois SS por favor - que chamamos de O CODIGO DA VINTCHCINCO DE ABRIU-Looooooo!... o Recto Ângulo Luz & Tano.
Simbora gente!... tá na hora de tocar as vacas de volta ao curral da E.A.M.A
Abraço
Silvino Potêncio
Ex Combatente - Ex Residente - Ex Retornado - Ex Pulso do Gueto Aulgarveschwitz - Eis Criba Avulso de Catramonzeladas Literárias de Angola