quinta-feira, novembro 01, 2007

Ainda nos restam lágrimas, Cruz Gomes!...

E ainda dizem que é feio um homem chorar...
Fernando Cruz Gomes
Toronto, Canadá
..
O Camilo – o meu querido Camilo – já me fez chorar. E embora continuem a dizer que é feio um homem chorar... eu penso que não.
Que chorar é mesmo o melhor remédio de quem, como nós, sofre daquela danada saudade!

O Camilo – o meu querido Camilo – fez-me chorar!
Sobretudo por me lembrar coisas que eu teimo em esquecer.
Coisas que fizeram o Camilo... grande e generoso.
Artista de mão cheia. Se ele tivesse nascido aqui perto, nos “States” hoje da nossa angústia, decerto que já tinha montes de livros, toneladas de dinheiro e até títulos de nobreza que por ali também se compram.
Mas não. Nasceu por aí.
Mas faz parte de uma “geração de ouro” de homens da Informação que “refrescou”, ao deixar Angola e Moçambique, tudo o que era Jornais e Revistas, Rádios e Televisões em Portugal.
Desmintam-me, se tiverem coragem para tanto, mas, de facto, logo a seguir ao 75... a Informação medrou um palmo em terras do nosso querido “Puto”!
Medrou... que eu sei.

E mesmo nós os que atingimos as esporas de cavaleiro da Informação – com as mãos a escorrer sangue e a rilhar os dentes para não chorar – entendíamos por essa altura que éramos bons... mas lá.
Sim, porque as “feras” da Informação estavam em Portugal, pensávamos.
Só que ao enfileirarmos nos Jornais da época, por essa altura, verificávamos logo que éramos, de facto, bons.
Éramos, sim.
Talvez por que a grandeza da terra que deixámos... nos obrigava a crescer também como profissionais... talvez.

O Camilo é dessa plêiade de gente. Se o vir hoje na rua... decerto que o não conheço. Nem ele a mim, decerto.
Mas, de facto, ponho o seu nome no rol dos da “geração de ouro”, que cresceu em Angola.
E lembro-me do seu grande coração, do traço de um calibre a toda a prova.

E mesmo quando me falam na Censura – que eu abomino com todas as minhas forças – entendo, cada vez mais, que ela (a tal famigerada Censura) nos obrigou a aprimorar a escrita e o traço do desenho ou da caricatura.
É que para o tal censor... não perceber, nós dávamos todos meia volta ao bilhar grande, mexíamos os cordelinhos todos da criatividade e... a coisa saía escorreita, embora não tão linearmente perceptível como desejaríamos.

A Luanada aconteceu. Como aconteceram tantas outras gralhas.
Mas os da nossa geração... não tinham grunhos. E esses são piores que as gralhas...

Como disse, não há muito, o Victor Elias... cada vez tenho mais orgulho de ser amigo do Camilo, mesmo que ele hoje o não saiba!

E deixem-me voltar ainda à Censura... à execrável censura!

É que também esfreguei as mãos de contente e afinei a pontaria... para ver, então, o que é que apareceria de novo no Teatro e na Canção, na Literatura e até no Jornalismo.
Onde é que estavam as “feras” que tinham sido castradas pela censura?! - Em Lisboa... vi um conjunto de óptimos Jornalistas que tinham sido corridos do DN, por obra e graça do muito popularmente à esquerda... José Saramago, a terem de fazer um Jornal.
Vi no Teatro de Revista as maiores porcarias com todas as letras e todos os palavrões que no nosso tempo nos faziam còrar.
Na Literatura vi os mesmos de sempre... os mesmos... a escrever o mesmo.
Na Televisão e na Rádio... vi os “pimbas” todos a crescerem.
E vi a “internacional cor de rosa” a proteger os seus e as suas.

A execrável censura, afinal, não evitou que os génios crescessem como cogumelos.
Apesar de ter impedido a publicação de muitas e boas peças.

O “Trópico” era, de facto, uma boa tentativa de fazer uma revista que tentava ser diferente do Notícia. Não conseguiu e em termos financeiros... foi morrer às mãos do Notícia que tinha crescido... crescido... e já era quase um “império”.

O Camilo! O meu querido Camilo! Com todas as gajas boazudas. E com as Luanadas!
Era, de facto, um puto cheio de... "ideias". E eu, hoje velho a passar a escala dos 60 e tal... também lhe não ficava atrás.
Bons tempos, Camilo! Bons tempos...!

Por mim… ainda continuo neste “modo de morte” que é o Jornalismo.
Nunca, em termos profissionais, consegui fazer outra coisa que não Jornais, Rádio e Televisão.
E acho que vou continuar.
Sobretudo porque quando for para o outro lado da rua... vou pedir ao Homem Grande – e eu ainda acredito nEle, a despeito de ter permitido que nos matassem os sonhos... – para nos deixar fazer por lá... o Trópico que amávamos!
Mas fica descansado... que não o farei sem tu apareceres!
Fico à tua espera! Para que no primeiro número – feito lá na vasta amplidão onde os séculos dormem... – tu possas fazer mais um dos teus belos cartoons!
Promete-me que colaboras comigo... prometes?!

2 comentários:

Camilo disse...

Para que conste...
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Vi "nascer o "Trópico" e segui a par e passo a sua primeira edição.
Era seu Director o Jornalista -Grande Jornalista- o Cruz Gomes.
O Chefe de Redacção era o
Carmo Veiga.
Homens bons e generosos.
Esta primeira edição do "Trópico" com a gralha LUANADA aconteceu em... 1966.
E, nesta edição, inseria uma página humorística, com desenhos meus, com o título:
"O QUE VAI PELA CIDADE"
Meses depois "assentei praça" na Escola de Aplicação Militar de Nova Lisboa (E.A.M.A.)onde estive até Março de 1970.
Não fugi para França nem para "Argel"...
Cumpri o sagrado dever de defender a minha Pátria.
Não me arrependo.
Jamais me arrependerei!
Não aparecerá ninguém a chamar-me:
nem desertor, nem traidor.
Currupto, muito menos.
Saudosista? Sim, sou!
Sacana é que não!!!

Casemiro dos Plásticos disse...

camilo é um senhor!